Carros elétricos no Brasil: realidade ou modismo?

A mobilidade elétrica tem se apresentado como o futuro — mas será que já é o presente no Brasil? Carros elétricos (EVs) não são apenas uma tendência; seu avanço reflete comportamento do consumidor, políticas públicas, tecnologia e desafios econômicos. Vamos explorar se essa transformação é passageira ou está aqui para ficar.

Crescimento real: números que impressionam

• O Brasil registrou aproximadamente 177 mil veículos elétricos em 2024, ante cerca de 41 mil em 2019. Isso representa um salto significativo, ainda que sua participação na frota nacional ainda seja pequena — cerca de 0,5% atualmente, projetando-se alcançar 1% em 2029 e 2% em 2034. Climate Scorecard

• As vendas de elétricos e híbridos devem ultrapassar as de veículos a combustão já em 2030, com previsão de representarem mais de 90% do mercado nacional em 2040. Reuters

O que motiva os brasileiros — e o que os freia

• Uma pesquisa da KPMG mostrou que 89,7% dos brasileiros consideram ter um carro elétrico como opção de compra, mas enfrentam barreiras como preço elevado, infraestrutura limitada e falta de interesse das grandes montadoras. InsideEVs Brasil+8UOL Economia+8IPEA+8

• Outro estudo revelou que 70% dos entrevistados demonstram interesse em adquirir um carro elétrico. As principais motivações incluem preocupação ambiental (30%), economia de combustível e maior conveniência. Entretanto, mais de 30% não aceitariam pagar nada a mais por um EV, enquanto mais de 50% estariam dispostos a pagar até 20% a mais. iG Carros

• Em satisfação, 97% dos proprietários de EVs no Brasil se dizem satisfeitos, e 92% afirmam que comprariam outro elétrico se precisassem trocar o carro. Ainda há desafios, como cobertura limitada de estações de recarga, tempo de carregamento e "ansiedade de autonomia". InsideEVs Brasil

Economia e viabilidade financeira no longo prazo

• Um estudo de Soares et al. (2024) comparou o custo total de propriedade (TCO) e o “green premium” para EVs, híbridos e veículos convencionais. Concluiu que, apesar do maior custo inicial, os BEVs custam até 73% menos por ano comparado a veículos convencionais, tomando como base o custo por quilômetro rodado. Além disso, os híbridos com biocombustíveis também apresentam economias relevantes—mas nada supera os elétricos puros. ScienceDirect+3Aston Research Explorer+3SSRN+3

Panorama estrutural: políticas públicas, indústria e infraestrutura

• A infraestrutura de recarga cresceu de 735 para cerca de 12.100 estações entre 2019 e 2024, com projeções de atingir 30 mil em 2029 e 60 mil em 2034. Climate Scorecard

• Um relatório da ICCT mostra que a adoção de veículos elétricos pode gerar impacto econômico positivo: criação de empregos, aumento da renda e valor agregado ao setor automotivo até 2050, especialmente se houver políticas adequadas. theicct.org

• O Programa MOVER, lançado no final de 2023, substituiu o Rota 2030, trazendo incentivos fiscais (“IPI Verde”), estímulo à produção nacional e aumentos tarifários sobre importados — visando tornar a indústria local mais competitiva e atrair investimentos em mobilidade sustentável. Wikipédia

O protagonismo chinês e inquietações locais

• Marcas como BYD dominam o mercado brasileiro de EVs: em 2024, as vendas cresceram 85%, com BYD à frente. A empresa anunciou a abertura de uma fábrica em Camaçari (BA), mas atrasos devido a denúncias trabalhistas geraram incerteza. Reuters+5apnews.com+5businessinsider.com+5

• A importação de veículos chineses preocupa o setor local: em 2025 já são esperados cerca de 200 mil importações (8% das matrículas), levando a pedidos para reativar tarifas altas (de 10% até 35%) para proteger a indústria nacional. Reuters

• O domínio também é evidente no primeiro trimestre de 2024: 88% do mercado de EVs no Brasil era chinês, com BYD concentrando 71% dessas vendas. businessinsider.com

Conclusão: realidade em construção, mas com desafios

• A mobilidade elétrica no Brasil já ultrapassou o estágio de modismo — e se mostra uma realidade em expansão, impulsionada por consumidores, tecnologia e incentivos governamentais.

• Contudo, ferros como alto custo inicial, infraestrutura ainda insuficiente, excesso de importação e necessidade de políticas consistentes precisam ser enfrentados para que os EVs se consolidem como o futuro da mobilidade no país.